segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Namorados

Um belíssimo texto de Manuel Bandeira para vocês.
Li pela primeira vez quando era criança, por era parte do meu livro de português.
Será que isso me influenciou?

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.



Beijos!

Domesticação


Me acusam de estar domesticada. Adestrada. De ter virado bichinho de estimação. Que não sou mais animal livre, solto e selvagem. Só fico e me apego aos lugares que me convém. Que me despertam amor, carinho, acalento e proteção.
Quem não gosta de um colo aconchegante, de cafuné, de carinho pé com pé? Eu gosto! Sou onça, mas gosto! Onças em estado de felicidade como eu tem o pêlo mais brilhante, os olhos úmidos, nariz gelado e maior força muscular. Quando a alma está bem, o corpo funciona melhor.
Mas não se engane com a aparente tranqüilidade do meu coração. Ele ainda é grande e forte. Não se engane com a leveza dos meus gestos, ainda tenho garras e dentes. E não se engane com a brandura das minhas palavras, ainda sou felina. Para o meu amor, uma gatinha manhosa, mas para o resto do mundo, as garras ainda estão aqui.
Sou menina, sou mulher, sou amante, sou amada, sou namorada e sou onça. E sou muito de tudo e tudo de muito.